quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Versos maldizentes

Quero escrever-me visão anacoluto em teus frágeis botões de rosas.
Fazer-me voz latente por entre teu soprar prófugo de arrepio.
Ser-te súbitos encontros e desencontros de juízo.
Parecer-te algoz das ilusões resguardadas pelo não senso que proferiste a partir da minha clarividência.
Quero ser do teu sorriso os mesmos músculos que desenham tua tristeza,
A avareza dos teus motivos cômicos,
Do encanto côncavo reluzente em teus lábios agora embeiçáveis.
Quero deslizar por teu físico desespero eloqüente,
Perpetuando o doce encalço das lembranças curadas,
Que livres regozijam-se nas angústias mordazes de tua consciência cretina.

Sorrisos de Emiliana

De todos os sorrisos, os teus não me permitem lembrar dos outros quantos...
Esqueço os meus olhos por onde seguem...
Construo passos com os lábios, e sonho sabores.
É a tua boca a minha fantasia
E o dilema por serem dois lábios os quais devo amar.
De todos os sorrisos, apenas os teus são meus,
Vivos e sentimentais e conquistadores...
Senhoris da afoiteza cômoda do teu caráter.
Pensam por ti e amam também,
E concluem teus gaguejados involuntários regidos na e pela profundeza do espírito.
Pensam por conta própria...
Amam por exatidão...
E me presumem a amá-los...como a ti.

"Malamorvolência"

O sol mantém sua expressão enfastiada, um momento que eu denominaria o entrecruzar dos espíritos, dos destinos, das idéias, das nossas vagas concepções desprezíveis nascidas nas sensações das angústias, quando nos permitimos entregarmos à morbidez da diversidade dos nossos medos mais inexplicáveis. Chocamo-nos num eclipse descomunal, onde os olhos são detalhes inúteis aponto de só deturparem os episódios descoloridos que se concretizam mordazes, como a alma imbecíl deste que os fala. O sol se esconde por entre nuvens cinzas, permitindo que toda e qualquer imagem se torne tão patética quanto aquele velho parecer de acreditar sempre em uma saída na complexidade dos desesperos, das encruzilhadas do dia-a-dia. Somos patéticos em circunstâncias incontáveis, quando, por exemplo, encontramos alguém que pouco nos faz falta ou que nos faz falta em demasia, utilizando gestos, palavras, sentimentos transbordáveis e pueris. A natureza transforma o “astro rei” num ridículo pierrô, a mercê da mão escrota e da inteligência sarcástica do seu idealizador literato...não existe ninguém desprovido de indefesa, os bons e os maus se auto confundem na monstruosidade dos corações corruptos. Quanto a mim, digamos que sofro de uma doença chamada “malamorvolência”, que me causa repúdio a cada amanhecer e náuseas perante a felicidade alheia e compartilhável. Acho que não fui tão claro nem coeso, meu pesar de agora brota da ausência incômoda, ao mesmo tempo em que estável, de quem vivo a desferir platonicidade exacerbada. Apenas acordei com uma terrível saudade a descambar meu íntimo... É excêntrico como o amor desfalece cada nova ingenuidade compadecida das lembranças dos ternos sorrisos do sol que clareia meu caminho, minha essência... meu coração.

Doce Fel

Doce Emiliana, o desejo de falar-te é instância involuntária.
Minha existência acalanta-se ao desferir-te palavras
Que deveras exprimam sentimentos meus incontestáveis,
Contemplados na luz emanada do teu primeiro olhar quando de encontro ao meu.
Tens a fórmula divina da regeneração humana
Na singularidade dos teus ingênuos e afetuosos sorrisos,
Que me valeram o inacreditável alçar dos desiludidos
Rumo ao sublime fardo dos que precisam consumir os dualismos da vida:
O de amar e sofrer;
O de sofrer para amar.
Amo o despertar das nossas lembranças pueris na plenitude dos dias;
Amo o silêncio a espreitar minhas sensações no instante dos meus pensamentos compendiados a ti;
Amo ensandecer-me com a consciência de que tua ausência em certos momentos é inevitável;
Amo repetir o teu nome despercebidamente;
Amo sorrir de uma felicidade palpável e não ilusória;
Amo teu nome e o faço divindade;
Amo acreditar que está sanha para que eu sinta a dor física deste coração despedaçado;
Amo tua timidez rompida pela veemência do instinto, do desejo, do sentimento...
Amo-te como uma necessidade constante para meu bucólico existir...
Amo-te agora, sempre, perto, ausente, desfigurado e até vencido pelo desagrado da perca.

Conhecedor de mim

Quem se encontraria em alguém
Desdenhando o mecanismo do sentimento que então se resulta?
E deste abrigo que me fizera
Espero-te reduto de outrora perdido...
E neste sorriso que improviso
Recrio o teu... inatingível e conhecedor de mim.
Quem se faria entender
Ao perceber que olhara o mundo ansiando mundos alheios...
Sonhos retalhados sem nexos...
Desenganando o coração quanto ao amor que os condiz?
E deste conciso espairecer
Renuncio-me para que no teu encanto amiúde e estonteante
Eu possa desfrutar da ternura do teu doce sorriso...
Sucinto, mas conhecedor de mim.

A quem espera no amor

Quem vê por mim, decodifica a vaga estrada,
Mas não prevê abismos.
Quem espreita minha metafísica de cabeceira, deslumbra-se sobre as sensações,
Mas não as essencializa sem deturpar os cataclismos do paradoxo existencial.
Nego a compadecência amiga...
Espero um novo desafio, uma porta entreaberta.
O amor desperta quando se afunila as causas e os porquês da supremacia da dor.
Ao reencontrar o coração outrora perdido,
Entende-se que era preciso dar-lhe tempo
Porque os gigantes são carentes demasiados de fraquezas sentimentais.
Um coração surtado enamora os amantes às correntes que os prendem.
Mas um coração liberto ensandece o gerar das lembranças.
Amemos sem mágoas e sem receios, discernindo o sofrimento como um lapidar...
Um lapidar para o completo encaixe à outra metade,
Que certamente se lapida em comum.
Libertemos os corações para que compreendamos que aqueles que os desdenharam,
E que nunca são poucos ou o bastante,
Apenas enalteceram o amor como um bem imprescindível.

(Poesia dedicada a mais uma das desilusões mundanas, infelizmente, como fora amorosa, causara uma dor avassaladora e uma sensação quase inflexível de repúdio)