domingo, 10 de janeiro de 2010

Poesia e Política II

Liberto-me desse mundo que ostento sobre os ombros,
Das mágoas e lamentações referentes a mim,
Dos sonhos meramente estorvos
Configurados surdos e ensandecidos tão quão sentimentos brandos, pueris...
Deturparam o sentido exato do que falei.
Num mundo onde pervertem princípios,
Adulterar homens é volúpia imutável.
Liberto-me das ilusões de alvedrio anteriores,
Consciencioso e inerte as autoflagelações além corpo.
Aparto os punhos e os regojizo antes elégicos...
Abro os calos do meu calcanhar.

Poesia e Política

Escreverei um dia para um alguém que nunca corresponderá,
Sem sentir-me infeliz ou decepcionado por enxergar enfim aonde chegamos.
E comprovarei a todos que solidão...É apenas a solidão.
Que pior é um coração apático,
Uma mente vazia,
A praxe do egoísmo e da indiferença...
A normalidade da antipatia.
E que somente a poesia para enriquecer nossa pobreza espiritual,
Político-social, e, principalmente, afetiva.
Agora mesmo encontro-me sozinho,
Cansado da inconstância humana,
Guardado,
Ferido,
Recitando em silêncio versos enaltecidos pelo meu coração esperançoso.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A nova visão da literatura

Os Movimentos Literários de que temos conhecimento são manifestações sociais, reações absolutas de contentamento ou insatisfação às grandes transformações políticas e econômicas que conseqüentemente mudavam a postura do homem, condicionando-o a acomodação ou a inquietude da sua forma de pensar. Eis a nova visão da literatura, que além de enfatizar a importância da análise do Contexto Histórico para a percepção do processo de retrocesso ou evolução do homem em sociedade, intensifica o estudo da visão de mundo e da exposição da mesma de forma satisfatória ou não quanto ao meio, os fatos, os princípios das gerações. Deve-se observar com criticidade a postura humana, sua manifestação de encontro ao meio em que vive, “ao andar da carruagem”, a forma tosca de imposição de poder e ideologia. Mesmo envolvido por um ambiente sarcástico, alienado, autoritarista, limitado e supérfluo (este último que encontramos hoje ainda) o homem sempre se destacara pela ousadia de enxergar a frente de sua época, uma característica intuitiva, o que percebemos na sensibilidade de Camões ao descrever o futuro grandioso lusitano através das navegações num período ainda de adaptações desse novo sistema, e de Graciliano Ramos quando mostrou ao povo brasileiro, num período pré ditadorial, seus piores anos de abuso de autoridade por parte do exército no personagem Soldado Amarelo do livro Vidas Secas!

Crônica da Poética Urbana II

Pra falar de sentimentos tolos preciso tirar umas cinqüenta toneladas dos ombros. O mundo inteiro eu carrego aqui como um castigo imediato, e acreditem, o peso que sustento remete a leveza do meu espírito. Lembro vagamente do meu corpo jovem, cheirando à fruta doce, cobiçada. Momentos bons, esses, que agridem a sensatez do amadurecimento visível no meu recanto material desgastado e meticuloso. Vinte anos, e a experiência de uma ainda lagarta no casulo. Os meus pensamentos se atravessavam e as ideologias se contradiziam. Eu já não respondia por mim. Essas saudades teimam a afeiçoar-se a uma dor que se descamba para a agonia, indo de um sensorial macabro interno a uma compulsiva angústia física. O céu que pesa nem sempre é nuvem instantânea, às vezes o passado nos oprime, às vezes o coração se flagela, despedaçando o que se construíra sã. Como não acreditar na ilusão, se quando se descobre à natureza dos detalhes se atenta que tudo, sem exceção, se remete a mesma? Procurem encontrar em vocês o que deveras consta, o quanto, se de fato, constatou-se, e, então, constatar-se-ão conclusões próprias.

Crônica da Poética Urbana I

Acordar é resplandecer-se por entre devaneios medonhos. Não cheguei sequer a cochilar, a hipocrisia implícita em cada gesto vã me concede náuseas que ficam a se remexer constantemente. É “assassinante” sentir o vulto deprimente das auto-desilusões. Sentir-se assim é explorar seu sétimo, até oitavo sentido. A cada instante percebo minhas centésimas intenções promíscuas, e chego à conclusão de que se tudo fosse pesado pelos exageros eu teria cada movimento calculado provido de... Quem poderia compreender esse âmbito de indefinições, de desconhecimento, de descomprometi mento? Com que olhos você decodifica o mundo? É hora de partir daqui, dessa nostalgia surgida das minhas costelas, da frieza que abraço, da vida compadecida e que se encurva diante do “homem-bicho” que se procria nesses tempos atrozes, de pura sagacidade e insensibilidade. “Amanhã a Deus pertence”, mas o que ele poderá fazer ao que nada há? Amanhã haverá do amor apenas uma análise fonológica e morfossintática, até mesmo a linguagem dos amantes vive o risco de tornar-se língua morta. Talvez eu lembre que um dia senti-me feliz.Preciso alçar dessa mente embrutecida, largar o cansaço que prendo aos tornozelos e desferir pensamentos bons. Os sonhos acompanham os Lordes do Iluminismo. Fazei do Apocalipse a luz que ilumina um quarto escuro, e eu sou um cômodo, um cárcere, a claridade constrói-se da ânsia de enxergar além dos olhos materiais, a parte mais cega e desprovida de sensibilidade do corpo, que procuro invalidar em mim, ou não torná-la tão importante. Qual a razão do início? Qual o sentido de sentir? O que de fato é belo? Quem não procura ver o que quer? Não temo ser vertente oposta nem cúmplice desse descompasso que chamam de vida. Por isso, agora, me defino como uma semente que irá dar frutos de dúvida quanto a sua existência. Quero que não estranhem a forma que tenho de pronunciar-me quanto a tudo nem a todos.

Disperso nessa Fábrica de Robôs

Busco incessantemente descobrir a natureza das coisas que se configuram imóveis, como uma ampulheta tosca descompromissada com supérfluos conceitos de movimento ou quaisquer resquícios de vida. Não é que eu procure aqui desvendar a substância mórbida da morte, nem a ausência de plenitude que se encontra na tristeza, hora mental, hora física; vivo numa poética que mais é um desejo ardente no encalço da felicidade, que a partir das igualdades sociais, da priorização da educação, da valorização de princípios e virtudes, e da eloqüência sentimental pode-se deixar de ser uma tendência utópica para se tornar fato consumado. Busco, então, conhecer a essência inquieta das minhas emoções, controlar meus ímpetos sentimentais de contentamento e angústia, podendo enfim, como resultado de uma absoluta compreensão própria junto a todo o conhecimento adquirido, construir em mim a mais indestrutível e insaciável faculdade, a sabedoria.